"A de ‘Gala’ no Campo Pequeno: Da verdade do toureio ao fim da corrida".


Poderia passar por pantomineira, não fosse a televisão ter transmitido e em directo para todos quanto assim o entendessem ver, que naquela que foi a última da temporada de abono na Praça de Toiros do Campo Pequeno, António Ribeiro Telles, foi protagonista a distância-luz, da actuação mais completa e verdadeira da noite. Contudo teve à recta-guarda, dois ‘penduras’ (no bom sentido), que conseguiram em boa hora e na parte final da corrida, dar algum ânimo a um espetáculo que vinha sendo longo, sonso e de pouco interesse.Casa cheia, “câmaras, luzes, acção”, o sempre aguardado cortejo à antiga portuguesa, a merecida e sentida homenagem ao Eng. Samuel Lupi, e posto isto, 38 minutos depois…lá teve início a corrida! Ainda que sem redondear, até porque nos compridos não agradou, face também às condicionantes do reservado manso que teve pela frente, que outra coisa mais não fez que raspar, António Telles ‘encastou-se’ e deu nos curtos uma lição de bem lidar, com um conceito despojado de alardes e maus exemplos do que (ainda) é tourear a cavalo. E o que começou com um bom primeiro ferro, elevou-se no segundo e terceiro, com António a entrar terrenos dentro do toiro, que se arrancou ao cite, com o cavaleiro a cravar de alto a baixo e ao estribo. Voltou a exibir o melhor nível no quinto curto, em que aguentou, consentiu, reuniu e rematou. E tudo com uma só mão nas rédeas. Cravou bem e lidou melhor, coisa rara nos tempos que correm. António Brito Paes evidenciou esta temporada, uma evolução no seu toureio, assim como das boas maneiras que dispõe na equitação. Em Lisboa voltou a fazê-lo com dignidade, sentido de lide, carenciando a função por vezes de ajuste nas reuniões pois teve pela frente um toiro tardo no momento dos ferros e de pouca perseguição. Marcos Tenório esperou o mais pesado da corrida à porta gaiola, a quem recebeu com boa brega. Dando vantagens, de praça a praça, efectivou com dois bons compridos, os melhores da noite. Nos curtos, entendeu fazer uso do seu registo mais ‘popular’, recheado de adornos, onde ressalvam as piruetas nos remates, frente a uma rês, que nesta fase, andou algo condicionada de uma das mãos. Dos curtos, houve registo apenas de dois quiebros, compensados depois com três pares de bandarilhas, tentativa em que foi efectivamente cumprida esta sorte. Duarte Pinto teve pela frente o toiro mais reservado e distraído da noite. O jovem cavaleiro andou correcto, sendo praticante de um toureio que melhorou a partir do terceiro curto, com abordagens rectas mas onde a falta de toiro fez carecer de mais transmissão à sua actuação. Com Miguel Moura, e quando já longa ía a noite, veio o atrevimento e alguma frescura. Frente a um toiro mais voluntarioso, o jovem cavaleiro praticou um toureio de distâncias. Aproveitou as condições da rês, para se arrimar nos quiebros que chegaram facilmente às bancadas, sendo de muito boa nota o palmito com que encerrou funções.

O praticante de turno, Parreirita Cigano, foi outro a quem a pouca experiência contrastou com a garra com que aproveitou a oportunidade. Não foi feliz nos compridos, para nos curtos ir subindo de tom frente a um toiro com mobilidade e transmissão. Teve atitude, vontade e sentido de lide, carecerá de arestas por limar, mas faz já frente a muito artista de alternativa. Praticou sortes bem desenhadas, pisou terrenos de compromisso para depois deixar a ferragem da ordem com correcção. O quinto curto, foi um quiebro ajustado e impactante, em que aguentou a pouca distância a investida do oponente. Depois, tentou repetir a proeza mas o toque na montada retirou o brilho do ferro. Ainda assim, não serviu para diminuir a noite destacada do jovem cavaleiro em Lisboa. Nas pegas, os toiros impuseram outra dureza, nem sempre feliz. Pelos Amadores de Lisboa, foram todas as pegas desta fardação consumadas ao segundo intento. João Varandas foi quem abriu a noite com uma rija pega. Seguiu-se Manuel Jorge Guerreiro, um dos melhores forcados das últimas temporadas do grupo alfacinha, que a par com João Lucas, outro elemento de peso nos últimos anos dos Amadores de Lisboa, se despediram naquela noite do Grupo, de forma simples mas exemplar, consumando ambos as suas pegas com correcção. Pelo Grupo de Coruche, Paulo Oliveira consumou à primeira com o grupo a efectivar de forma coesa; mais dificuldade teve João Peseiro, que depois de quatro intentos, alguns duríssimos e em que nem a ajuda de todo o grupo, e até dos de Lisboa, lhe valeram a consumação, ainda que muitas vezes se aguentasse muito na cara do toiro, acabou por ser dobrado por António Tomás, que com ajudas carregadas, resolveu a papeleta mas, na minha humilde opinião, sem ter sido realmente efectivada, dado que o forcado chegou a sair da cara do toiro. Fechou a noite José Marques, também à primeira, numa boa pega, rija desde a reunião, à viagem, até à consumação da mesma. Os toiros de Ernesto de Castro cumpriram de apresentação, gordos, desiguais de tipo, saíram mansos no geral, a transmitirem pouco, destacando-se com mais mobilidade e codícia os lidados em quinto e sexto lugar. Dirigiu o Sr. Lourenço Luzio assessorado pelo veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva, numa noite em que nos valeu o princípio e o fim.

Para o ano há mais!!"
Por: Patrícia Sardinha